sábado, 9 de julho de 2011

Realidade e Perspectivas

No post A Origem, reproduzi um argumento em desfavor à emigração, que eu e minha esposa já ouvimos algumas vezes: “Com um emprego legal, muito $ no bolso, vocês não vão precisar mais sair, ficando muito bem por aqui” (esse não é o nosso caso agora). Pensando apenas no dinheiro, na comodidade e, principalmente, no cenário de curto prazo, isso talvez faça sentido. Afinal, por que largar uma vida relativamente estruturada no Brasil para recomeçar muitas coisas num outro país, tendo que dar uns “passos para trás” no nosso padrão de vida? Muitos não conseguem entender esta opção, e é possível que o nosso pensamento fosse outro, caso nos sentíssemos muito “enraizados” à nossa vida e ambiente atuais. Certamente as razões para emigrar são subjetivas, fazendo com que este passo seja positivo para uns e negativo para outros, conforme o caso particular de cada indivíduo. Mas se a questão gira meramente em torno de carreira profissional ou dinheiro, é bom termos um olhar mais crítico sobre o Brasil e suas perspectivas.

Já faz algum tempo que me vem “cheirando mal” esse tal boom imobiliário verificado no País. Nunca me convenceu a conversa mole de alguns veículos de comunicação, financiados por pessoas e entidades interessadas em fazer a “bolha” crescer, dizendo que a escalada de preços era apenas uma “recomposição” de anos de estagnação, que os nossos imóveis é que estavam “muito baratos” anteriormente. Como a riqueza não surge da noite para o dia feito capim, sem lastro algum, é no mínimo estranho ver o custo dos imóveis (e de muitas outras coisas) subirem tanto nos últimos tempos, enquanto os contracheques da população tiveram reajustes bem mais modestos.

Se inicialmente eu estranhava os sinais do mercado imobiliário brasileiro, outros alertas foram surgindo com o passar do tempo. O crediário disponibilizado (acessível e caro), não é uma “arapuca” que vai trazer consequências negativas mais adiante? Os empréstimos, financiamentos e subsídios “camaradas”, que o governo cede generosamente feito um paizão aos seus chegados, não tem custo nenhum para a sociedade? O Real valorizado, que abre as portas aos importados e facilita os gastos no exterior, não tem efeitos colaterais para o País? Sou um leigo em Economia, mas não sou tapado ao ponto de acreditar que diante de todas estas “dúvidas” o nosso crescimento seja sustentavelmente garantido pelos próximos anos.

Dados e projeções recentes (extraídos do site do ex-prefeito do Rio e economista, Cesar Maia – http://www.cesarmaia.com.br/2011/05/bolha-latino-americana/): 1) Para cada 10% de crescimento na China, há cerca de 4% de crescimento, via commodities, na América Latina. Demanda reprimida nos países desenvolvidos e tendência de arrefecimento da expansão chinesa, com impacto direto sobre nós, sua periferia; 2) Projeção de crescimento, mais cedo ou mais tarde, da taxa de juros nos EUA, tornando o nosso mercado financeiro menos interessante; 3) Pressão inflacionária considerável; 4) Expansão mais modesta do PIB que nos últimos anos; 5) Projeção do déficit em conta corrente, de US$ 60 bilhões; 6) A balança comercial da indústria passou de um superávit de US$ 18 bilhões para um déficit de US$ 22 bilhões em cinco anos; 7) Déficit de US$ 18 bilhões na balança comercial dos derivados de petróleo (crescente nos últimos anos). Como dizia Simonsen, "a inflação fere, mas o balanço de pagamentos mata".


Existem “n” motivos que podem desmotivar uma pessoa à emigração, o que nos leva a respeitar opiniões e objetivos de vida diferentes dos nossos. E particularmente o programa de imigração do Canadá não visa atrair gente para uma “corrida do ouro”, prometendo riqueza fácil e abundante. A idéia é qualidade de vida (vou escrever mais sobre isso em postagens futuras). Mas, sem deixarmos de amar e respeitar a nossa Pátria, sem renegarmos a nossa origem, não podemos desconsiderar as incertezas que rondam o nosso futuro. Respondendo à questão transcrita no 1º parágrafo, eu diria: “Não estou emigrando por dinheiro. Mas isso também não é motivo para me segurar aqui, aliás, motivo algum”.

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